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Palavras que confundem: mal ou mau? Ora ou hora?

Oras, já passou da hora de publicar texto novo por aqui, não? E a dica de hoje é sobre algumas palavrinhas que dão aquela confusão na hora da escrita. Quais palavrinhas? Oras! Leia o texto e você vai perceber, na hora, do que estamos falando. E hoje, pra variar um pouquinho, o texto não será de minha autoria. Resolvi transcrever aqui um trecho do livro “Escrever melhor….”, que trata das questões ortográficas de forma bem esclarecedora e divertida.

Aproveite a leitura!

 

Lembra-se da tomada e do focinho de porco? Ambos são salientes e têm dois buracos. Mas um dá choque. O outro cheira. Confundi-los acarreta problemas. Melhor estar atento às diferenças.

Na língua também há tomadas e focinhos de porco. Trata-se de palavras que, na aparência ou na pronúncia, são quase iguais. Mas uma não conhece a outra nem de elevador. É o caso de hora e ora, oh! e ó, mas e mais, mal e mau.

Ora x hora 

A pronúncia de hora e ora é a mesma. Mas o sentido não tem nenhum parentesco. Veja como não cair na esparrela de tomar uma pela outra:

Hora significa 60 minutos:

Ora quer dizer por enquanto, por agora:

 

Oh! e ó

Oh! ou ó? A pronúncia de uma é gêmea univitelina da outra. Por isso, na hora de escrever, pinta a confusão. São duas grafias. E dois sentidos. Quando usar uma palavra ou outra?

O ó aparece no vocativo, quando gente chama alguém:

O oh! é interjeição. Tem vez quando a gente fica de boca aberta deAdmiração ou espanto:

Mas e mais

Mais é o contrário de menos:

Mas quer dizer porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto:

 

Mau e mal

Com u ou com l? Os professores não se cansam de explicar: Mau é adjetivo: homem mau, lobo mau, mau funcionário, mau humor.

Mal tem dois papéis:

Na dúvida, recorra ao macete. Mau é o contrário de bom. Reescreva a frase. Deu bom? O u pede passagem: homem mau (homem bom), lobo mau (lobo bom), mau funcionário (bom funcionário), mau humor (bom humor).

Mal opõe-se a bem: Nos filmes, o bem não tem vez. A tuberculose foi o bem do século 19. Dormi bem. Anda bem das pernas. Só tenho paciência com bem humorados.

Guarde isto: como diz o outro, não confie no ouvido. Ele engana o bobo na casca do ovo.

 

Moral, questão de gênero

O moral? A moral? As duas palavras estão em todos os dicionários. Escrevem-se do mesmo jeitinho. Mas o gênero faz a diferença. Uma é macha. A outra, fêmea. Muita gente não sabe disso. Na maior ingenuidade, mistura alhos com bugalhos. O resultado é um só. Pensa que está dando um recado, dá outro. Pior: não dá recado nenhum. Deixa o leitor a ver navios.

A juventude dificilmente fala em moral. Rapazes e moças preferem dizer astral. Há pessoas que têm alto astral. Outras, baixo astral. É o mesmo que o moral alto e o moral baixo. No masculino, a dissílaba indica estado de espírito, disposição de ânimo:

Quer moral mais baixo que o do goleiro que leva frango? Nem precisa ser jogo decisivo. O vexame é vexame em qualquer partida.

Como fica o moral do chefão filmado no momento em que recebe propina? Ou da criatura apanhada com a cueca cheia de dólares? Ou do marido surpreendido com outra na cama do casal? Ou da dona de casa que serve feijoada para os convidados muçulmanos na feliz ignorância de que eles não comem carne suína? Convenhamos: o moral despenca. Atravessa o centro da Terra. E se enfia lá dentro.

Quando o fiasco cai no esquecimento, o ressabiado reaparece. Devagarinho, vai subindo. Com o empurrãzinho da sorte, alça voos. Oba! Chega ao altão. Lá nas alturas, outra personagem entra em cartaz. É a moral. A meninada não tem paciência com a feminina que tem complexo de Deus. Quando ouve bronca, sai com esta:

 

A meninada ainda impaciente. Quando ouve bronca, sai com esta:

­– Ih! Lá vem lição de moral.

A moral quer dizer norma de conduta, moralidade. É coisa de mãe. Nessa acepção, só o feminino tem vez.

Aprecie:

Resumo da opereta: falou em astral? Dê vez ao masculino (o moral).  Falou em lição de moral? O feminino pede passagem (a moral).

 

(Extraído de: SQUARISI, D. ; SALVADOR, A. Escrever Melhor: Guia para passar os textos a limpo3. ed. – São Paulo: Contexto 2016. P.163-166)

 

Tá vendo como escrever é simples, mas nem tanto? Se você ainda precisa de ajuda com criação de textos, conte com os profissionais do Meu Redator.

 

Escrito por:


Maria Helena Favaro

Mestre em Linguística Aplicada pela UFSC e doutoranda em Análise do Discurso pela UNISUL. Apoiadora do Meu Redator e escritora nas horas vagas.

 

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